terça-feira, 20 de abril de 2010

A Vida de Santa Clara

Santa Clara de Assis sempre foi bastante conhecida nos lugares em que estiveram presentes os franciscanos. Normalmente era representada como uma freira vestida de marrom, com o rosto envolvido em toucas e palas brancas, e com uma custódia do Santíssimo Sacramento na mão. Sabia-se que ela tinha vivido no tempo de São Francisco e tinha sido sua discípula.
A custódia na mão, contava-se, lembrava que ela tinha expulsado invasores sarracenos do seu convento mostrando a Eucaristia. Na realidade, ainda não haviam custódais no tempo dela. Pelo seu Processo de canonização, sabemos que ela mandou levar a Eucaristia em uma caixinha ou teca para detrás de uma porta que isolava os invasores. Seu poder foi o da oração. No século XX, com a descoberta de novos documentos, encontramos uma Santa Clara com muitos valores:
- Um seguimento que pode ter superado o de São Fancisco;
- Uma profunda espiritualidade dos esponsais com Deus: na linha da Bíblia, dos Santos Padres e dos místicos medievais;
- Um ensinamento claro e original sobre a contemplação;
- Escritos muito espirituais.
João Paulo II disse que o amor entre ela, Francisco e Jesus era um mistério a ser considerado na contemplação. Cada um já tinha descoberto Jesus Cristo, mas O descobriram ainda melhor um no outro.
Hoje nós podemos dizer que ela não foi uma simples discípula de São Francisco: foi mãe de uma espiritualidade que está sendo chamada de francisclariana.
O pai de Clara chamava-se Favarone; a mãe, Hortolana. Ela era a filha mais velha e só teve duas irmãs: Catarina (mais tarde consagrada com o nome de Inês por São Francisco) e Beatriz.
Houve uma revolta por parte dos plebeus de Assis que guerriaram contra os nobres da cidade, obrigando-os a fugirem. A familia de Clara retirou-se inicialmente para o castelo de Corozano, antiga propriedade da família, então mantido por Martinho de Corozano, primo de Santa Clara, pai de Amata e Balvina, que também seriam Irmãs em São Damião.
Posteriormente, os nobres de Assis começaram a reunir-se na cidade de Perusa, aliando-se aos nobres de lá para retomar Assis. Nessa época, com tantas famílias reunidas, Clara e suas irmãs devem ter tido oportunidade de ser instruidas por muitos bons professores. Mais tarde, ela e Inês mostrariam ter uma excelente capacidade de escrever. Mesmo nesse tempo, em Perusa, Clara deve ter tido um relacionamento muito próximo com diversas jovens que haveriam de segui-la em São Damião. Sabemos de Filipa de Gislério, Cristina de Parise, Cecília de Gualtieri di Caciaguerra; e, conheceu também Benvinda de Perusa, outra futura Irmã, que nesse tempo devia ter sido uma criada.
De Assis entraram, logo no começo, Pacífia de Guelfúcio e Catarina (Inês), irmã de Clara. Mais tarde entraram também Hortolana, mãe de Clara e, finalmente a irmã mais nova, Beatriz.
Na mesma ocasião, também São Francisco esteve em Perusa, preso depois da derrota dos assisienses na batalha de Collestrada, em 1202.
Em 1210, foi possível um tratado de paz entre os nobres e os plebeus de Assis. Monaldo, tio de Clara, conseguiu que fosse assinado pelo potestá de Perusa um documento exigindo que Assis restaurasse a praça de São Rufino, danificada e queimada em 1198.
Depois disso, é possivél que a família, ou pelo menos Clara com seus pais e irmãs tenham se abrigado como hóspedes no Mosteiro de São Paulo da Abadessas, enquanto esperavam a reforma da casa paterna.
Foi no tempo posterior a sua volta para Assis que Clara teve as melhores oportunidades de acompanhar sua mãe Hortolana no atendiemento dos pobres. Hortolana era muito piedosa e caridosa. Fazia muitas peregrinações e já estiverá até na Terra Santa, provavelmente até antes do nascimento de Clara.
Em Assis, formou-se bem depressa a fama de que Clara era uma jovem devota e recolhida. Os familiares sabiam que ela não queria casar-se. Foram motivos que devem ter colaborado para que São Francisco quisesse falar com ela.
Em 1210 ou 1211, Clara e Francisco se encontraram. Eles tiveram vários encontros, em que devem ter falado sobre Jesus, sobre a vocação dela e sobre os planos para ela entrar em uma nova vida.
Antes de entrar, Clara vendeu tudo que lhe ia caber como dote quando se casasse e distribuiu o dinheiro aos pobres. Francisco exigia isso de seus discípulos, lembrando a exigência de Jesus ao moço rico.
Clara conta em seu Testamento espiritual que São Francisco teve uma inspiração quando estava reformando a Igreja de São Damião e convidou os pobres a ajudá-lo na construção de um futuro mosteiro onde "viveriam umas mulheres de vida tão santa que isso repercutiria em toda a Igreja". Ele começou uma restauração verdadeira da Igreja através das pedras vivas que foram Clara e suas Irmãs, os frades e os seculares franciscanos.
Francisco combinou com Clara que ela sairia de de casa no Domingo de Ramos. Ela tinha que se apresentar na catedral com suas melhores roupas (era o dia de seus esponsais com Cristo). Lá, o bispo Dom Guido, lhe entregou um ramo de oliveira, como um sinal. De noite, depois de afastar milagrosamente pesadas colunas e tronco, ela saiu pela "porta dos mortos" (só usada quando havia algum enterro) e foi para a Porciúncula, a capelinha de Nossa Senhor dos Anjos.
Na Porciúncula, depois de ter preparado tudo de acordo com o cerimonial do tempo, fazendo os frades esperar com velas acesas e conduzir a canditata até o altar, São Francisco cortou os cabelos dela, como sinal de consagração, e lhe deu o hábito dos franciscanos.
Dessa forma, na Igrejinha de Santa Maria dos Anjos, que fora preparada por Francisco no lugar desacampado chamado Porciúncula - mais tarde doado pelos beneditinos aos franciscanos - nasceram a Ordem de São Francisco e a Ordem de Santa Clara.
Depois da cerimônia, acompanhado por Frei Filipe, São Francisco levou-a para o Mosteiro de beneditinas chamado São Paulo das Abadessas. Foi uma caminhada de pouco mais de dois quilômetros a partir da Porciúncula.
No dia seguinte, Monaldo, o irmão mais velho de Favarone - o pai de Santa Clara - foi buscá-la com um pelotão de soldados. Mas desistiu diante dela e des seus gestos de consagração. Tirando o capuz que tinha na cabeça, Clara mostrou que estava consagrada, porque tinha os cabelos cortados. Todos compreenderam que o tio só poderia levá-la com permissão do bispo. O tio Monaldo se retirou e as beneditinas protegeram a jovem Clara.

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